Wednesday, April 9, 2008

Duas perguntas ao encenador...

Ao ser convidado pela Ass. Comédias do Minho para encenar uma peça, porquê aescolha de um Auto de Paixão? Por causa das raízes rurais e religiosas dacomunidade? Por uma opção artística?

A minha primeira opção foi logo a do Auto de Paixão.
Sou transmontano de criação, venho também de um contexto rural e religioso. Hoje sou um ateu cosmopolita.
Escolher uma Auto de Paixão é óptimo para trabalhar essa minha própria contradição. Pensando bem, é uma grande contradição nacional.
Depois atrai-me o imaginário da Paixão por ser intensamente físico.
Usar este texto é, ainda, inverter as funções, transformando o momento litúrgico mais teatral num momento teatral mais litúrgico. Ficamos assim próximos do ritual que, para as pessoas, parece ser mais importante do que o teatro.


Essa escolha não pode induzir a uma certa repetição daquilo que é a tradiçãolocal, em termos de representação dramática (ainda que amadora) do tema? O queé que a sua encenação acrescenta ou traz de novo?


Esta não é uma versão etnográfica ou tradicional mas uma 'nova' encenação do Auto de Paixão.
A pretensão não é a de trazer algo de 'novo' mas de tentar uma aproximação mais pessoal.
Havia certamente um modo de representar os Autos; nós não lhe somos fiéis. Ao mesmo tempo, jogamos de modo sensível, emotivo e inteligente (assim espero) com o imaginário colectivo e privado da Paixão de Cristo.

No comments: