Monday, August 13, 2012

CADERNO SOLAR


 

Rita Nicolau | VALENÇA

As Comédias do Minho integram a necessidade natural de persistência ao deixar o Teatro invadir em dinamismo criativo através da ousadia que a região do Alto Minho impõe, de fundir a dança das origens através de impressões com memória, caracterizando desta forma um conceito de transição entre passado, presente e futuro.
SOLAR é presenciar uma história que é nossa. É reconstruir vivências num único silêncio de ligações que adotam “o lugar” como palco.
Não há espaços longínquos mas sim o ponto do esforço, do suor, da comunidade e da natureza que se deixa entrelaçar por copos em solo fértil.
Braços e mãos transformados em árvores, rostos disfarçados de vidas, reflexos de um ciclo com Terra na paisagem. E as gotas de água são metamorfoseadas em refresco balsâmico depois de mais um dia de trabalho.
Há a partilha e a generosidade, contudo os corpos por vezes são pesados, rasgando a vinha em gestos continuados e agressivos.
SOLAR é confundir o mais simples movimento na natureza com os afazeres de todo o processo do vinho, mostrando a luta uníssona do Teatro com o meio, os costumes e as tradições.
Os corpos, esses vão sendo veículos humanos que se repartem em ideia de memória comunitária. SOLAR é vivência! SOLAR é abertura no tempo! SOLAR é um lugar numa Terra ou uma Terra num lugar!
Em todo este decurso, penso que o anseio comum é a vontade de aproximação entre uns e outros, porque o toque é gesto, o gesto é sentimento, o sentimento é reflexo, o reflexo é a transparência do espírito no momento do desejo comum de expressão.
Não há pessoas esquecidas, nem vontade de desistir. Há passos, risos, objetos e todos estão em testemunho real num espaço perto do coração e paralelo à alma. São as nossas raízes que se dispersam através da terra para prolongar a vontade dos Tempos.
SOLAR é um espetáculo de corpos em gestos de dança com a paisagem, em ciclos de luz, som e referências de contágio entre o espectador e os bailarinos. É um lugar onde todos se cruzam e não desfiguram a língua que falam. É um projeto de encontro.
Assim, a dança continua repetidamente a subir pela luz e a escorregar nas palavras abrindo um universo de sentimentos que discutem vontades e sonhos.
Deixem a bailarina dançar!
Deixem a bailarina rodopiar a sua dança inocente com o suor do seu corpo no final de mais um dia de trabalho!


João Agrela e família | VN CERVEIRA

De tempos a tempos a vida toma estradas secundárias. A grande maioria não tem qualquer significado, nem nos traz algo de novo. No entanto, acontece que, por vezes, aparece uma estrada que nos transporta para novos mundos, outras formas de estar, trabalhar, sentir. Um destes dias, as peripécias da vida levaram-me para uma dessas estradas e fizeram-me representar durante uns tempos o papel de ator.
Primeiro foi a oficina de formação a cargo do Radar 360º. Depois foram os ensaios e a fase de criação das cenas que nos envolveu a todos. Finalmente foi a apresentação ao público, durante três noites, do SOLAR. A descoberta, a camaradagem, o espírito de equipa, a empatia e toda a envolvência fizeram desta estrada uma das melhores de ser vivida. Com gestos comuns traduzimos hábitos comunitários cíclicos de trabalho e o ciclo da terra e da natureza e através deles vivemos o espirito das gentes que se entregam a estes ciclos.
Por todas estas razões é justo deixar aqui o testemunho sobre o trabalho feito pelas Comédias do Minho. Um obrigado a todos e em especial ao Gonçalo Fonseca. Todo este percurso convosco foi simplesmente fenomenal, fantástico, fabuloso… espero (esperamos) que até breve, numa outra qualquer estrada da vida.
 
 
Joana Gomes e Sara Fernandes | MONÇÃO

O projeto Solar, o mais recente trabalho das Comédias do Minho, envolveu 5 concelhos do Vale do Minho, tendo as apresentações decorrido ao longo dos meses de junho, julho e agosto.
Este espetáculo remonta para um passado não muito longínquo em que, com gestos de trabalho do quotidiano na lida da vinha/campo/terra, se recriou uma dança na paisagem. Esta dança engloba várias passagens na vida da vinha, desde o nascimento até à sua morte, passando por todos os processos de crescimento e tratamento da mesma.
Mas começando do princípio…
Durante o primeiro trimestre deste ano, de todo o lado chegavam notícias de que a companhia das Comédias do Minho procurava gente destemida e bem- disposta para realizar este projeto. A notícia chegou inclusive aos ouvidos do grupo de dança All Styles, da AJUM (Associação de Jovens Unidos de Mazedo), do grupo Filarmónica Milagrense e da Universidade Sénior. Estavam então encontradas as personagens necessárias para realizar este projeto.
A primeira experiência com esta causa nasceu de uma simbiose perfeita entre as Comédias do Minho e a associação  cultural Radar 360º, da qual resultou um pequeno workshop intensivo que decorreu no mês de abril, nas mãos de António Oliveira e Julieta Rodrigues. Este curto espaço de tempo em que tanto se passou, podemos dizer que foi uma espécie de trabalho de campo/pesquisa com o intuito de nos preparar para o que aí viria… Retratámos vários aspetos relacionados com a vinha que nos viriam a ser úteis para o Solar.
Daí passámos então aos ensaios com o criador/realizador do projeto, Gonçalo Fonseca. Estes ensaios decorreram durante maio, junho e julho e podemos dizer que foi assim que o espetáculo foi montado nas mãos de cada um de nós, em que no fundo todos introduziram um pedaço de si naquele a que viria a ser o resultado final.
A passos largos chegava então a data de apresentação nos dias 25, 26 e 27 de julho tendo como palco o emblemático Palácio da Brejoeira que com a sua beleza natural contribuiu em muito para enriquecer o espetáculo.
Esta experiência que a todos agradou, ajudou-nos a crescer enquanto potenciais atores e conhecedores do meio envolvente visto que foi-nos dado a tarefa de recriar uma tradição muito importante na nossa história pois se pensarmos bem Monção é a sua vinha. Aquilo que melhor nos retrata a nível nacional e internacional é o nosso vinho sendo por isso uma experiencia enriquecedora em relação à nossa cultura.
Outro aspeto que adoramos na experiência foi o grupo e o ambiente criado entre todos. Desde os atores profissionais, os músicos e até à nossa querida estagiária todos nos relacionámos com relativa facilidade e boa disposição, criando um grupo fantástico com vontade de trabalhar e fazer este projeto crescer.
Só nos resta então agradecer a todos os participantes e pedir uma salva de palmas ao nosso querido encenador Gonçalo Fonseca, ao grupo de atores profissionais da companhia das Comédias (Luís Filipe Silva, Mónica Tavares e Tânia Almeida), às Comédias do Minho em si por terem apostado em nós, à Radar 360º pela experiência positiva que nos proporcionaram, ao Palácio da Brejoeira e à Câmara Municipal de Monção pelo apoio manifestado. E, não nos podemos esquecer, uma salva de palmas a nós.


Sandra Santos | P COURA

Existem acontecimentos que ocupam a nossa vida sem pedir licença. Que chegam devagarinho e vão ocupando terreno, desbravando sentimentos, galgando resistências, abrindo novos cenários… O Solar foi assim!
Dançar na paisagem? Contar uma história, um ciclo da terra, da vinha e do vinho? (Não é coisa para meninos).
Perceber que se pode criar a partir de coisas tão simples como gestos repetidos, gestos que transmitem a força que vem da terra, do suor e do cansaço…
Foi bom compartilhar dessa criação, perceber como o meu “eu” se transforma em “nós” trazendo “todos” para dentro de um sonho que é posto em cena.
Ocupar um “palco” diferente obrigou-nos a explorar as potencialidades do movimento do corpo interagindo com a natureza e o cenário natural da praia do Tabuão trouxe uma magia que foi muito além do próprio espetáculo.
Falar do Solar em Coura, para mim, é falar dos últimos raios de sol a atravessar as folhas das árvores, de reflexos suaves na superfície do rio, da humidade da terra misturada com o suor do corpo, do calor de um ombro amigo, da música em sintonia com a cascata, de braços a dançar como videiras contra um céu de estrelas…


Ana Filipa Domingues, Gabriel Cristiano e Juliana Pires e grupo | MELGAÇO

Após um longo e intenso período de trabalho com vista à criação do projeto “ Solar”, encenado por Gonçalo Fonseca, podemos afirmar que foi uma experiência enriquecedora em todos os sentidos.
Para termos o primeiro contacto com o teatro físico adaptado a situações de rua, tivemos uma pequena formação de três dias com a participação da Associação Cultural Radar 360º que nos sugeriram alguns momentos, emoções e imagens impulsionando-nos para um olhar diferente sobre o trabalho da vinha.
Depois da formação, tivemos contacto com os atores profissionais das Comédias do Minho e com o encenador Gonçalo Fonseca, que trabalhou connosco movimentos coreográficos destinados à apresentação final. Fez parte do processo de trabalho um desempenho tanto pessoal como de grupo: aprendemos a moldar o nosso corpo em diferentes situações e a trabalhar como um só. Podemos verificar que cada um possui uma visão distinta de todo o processo que vai da vinha à prateleira surgindo assim várias interpretações que enriqueceram o espetáculo e a nós mesmos.
O nosso objetivo com este espetáculo é relembrar ao espectador as memórias do passado que ainda possui, tal como num álbum de fotografias.
O contacto com os profissionais da representação funcionou como um alicerce, ou seja, proporcionaram-nos segurança para que tijolo a tijolo fosse possível construir esta grande e bela “casa”.
Os dois últimos ensaios realizaram-se na Quinta do Reguengo, local destinado à apresentação final. Entusiasmo e agitação foram dois dos sentimentos que passaram por nós no processo de adaptação ao espaço pois várias coisas foram alteradas e significava que estávamos cada vez mais próximos do momento da apresentação final.
Em conclusão, percorrer esta estrada com os profissionais e com todos aqueles que nos apoiaram, Comédias do Minho, foi muito enriquecedor e gratificante. Podemos dizer que conseguimos atingir a meta de mais uma corrida e esperamos ansiosamente por uma próxima. Um grande obrigado e não um adeus, mas sim um até já.

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