Rita Nicolau | VALENÇA
As Comédias do Minho integram a
necessidade natural de persistência ao deixar o Teatro invadir em dinamismo
criativo através da ousadia que a região do Alto Minho impõe, de fundir a dança
das origens através de impressões com memória, caracterizando desta forma um
conceito de transição entre passado, presente e futuro.
SOLAR é presenciar uma história que
é nossa. É reconstruir vivências num único silêncio de ligações que adotam “o
lugar” como palco.
Não há espaços longínquos mas sim o
ponto do esforço, do suor, da comunidade e da natureza que se deixa entrelaçar
por copos em solo fértil.
Braços e mãos transformados em
árvores, rostos disfarçados de vidas, reflexos de um ciclo com Terra na
paisagem. E as gotas de água são metamorfoseadas em refresco balsâmico depois
de mais um dia de trabalho.
Há a partilha e a generosidade,
contudo os corpos por vezes são pesados, rasgando a vinha em gestos continuados
e agressivos.
SOLAR é confundir o mais simples
movimento na natureza com os afazeres de todo o processo do vinho, mostrando a
luta uníssona do Teatro com o meio, os costumes e as tradições.
Os corpos, esses vão sendo veículos
humanos que se repartem em ideia de memória comunitária. SOLAR é vivência!
SOLAR é abertura no tempo! SOLAR é um lugar numa Terra ou uma Terra num lugar!
Em todo este decurso, penso que o
anseio comum é a vontade de aproximação entre uns e outros, porque o toque é
gesto, o gesto é sentimento, o sentimento é reflexo, o reflexo é a
transparência do espírito no momento do desejo comum de expressão.
Não há pessoas esquecidas, nem
vontade de desistir. Há passos, risos, objetos e todos estão em testemunho real
num espaço perto do coração e paralelo à alma. São as nossas raízes que se
dispersam através da terra para prolongar a vontade dos Tempos.
SOLAR é um espetáculo de corpos em
gestos de dança com a paisagem, em ciclos de luz, som e referências de contágio
entre o espectador e os bailarinos. É um lugar onde todos se cruzam e não
desfiguram a língua que falam. É um projeto de encontro.
Assim, a dança continua
repetidamente a subir pela luz e a escorregar nas palavras abrindo um universo
de sentimentos que discutem vontades e sonhos.
Deixem a bailarina dançar!
Deixem a bailarina rodopiar a sua
dança inocente com o suor do seu corpo no final de mais um dia de trabalho!
João Agrela e família | VN CERVEIRA
De tempos a tempos a vida toma
estradas secundárias. A grande maioria não tem qualquer significado, nem nos
traz algo de novo. No entanto, acontece que, por vezes, aparece uma estrada que
nos transporta para novos mundos, outras formas de estar, trabalhar, sentir. Um
destes dias, as peripécias da vida levaram-me para uma dessas estradas e
fizeram-me representar durante uns tempos o papel de ator.
Primeiro foi a oficina de formação a
cargo do Radar 360º. Depois foram os ensaios e a fase de criação das cenas que
nos envolveu a todos. Finalmente foi a apresentação ao público, durante três
noites, do SOLAR. A descoberta, a camaradagem, o espírito de equipa, a empatia
e toda a envolvência fizeram desta estrada uma das melhores de ser vivida. Com
gestos comuns traduzimos hábitos comunitários cíclicos de trabalho e o ciclo da
terra e da natureza e através deles vivemos o espirito das gentes que se
entregam a estes ciclos.
Por todas estas razões é justo
deixar aqui o testemunho sobre o trabalho feito pelas Comédias do Minho. Um
obrigado a todos e em especial ao Gonçalo Fonseca. Todo este percurso convosco
foi simplesmente fenomenal, fantástico, fabuloso… espero (esperamos) que até
breve, numa outra qualquer estrada da vida.
Joana Gomes e Sara Fernandes | MONÇÃO
O projeto Solar, o mais recente
trabalho das Comédias do Minho, envolveu 5 concelhos do Vale do Minho, tendo as
apresentações decorrido ao longo dos meses de junho, julho e agosto.
Este espetáculo remonta para um passado
não muito longínquo em que, com gestos de trabalho do quotidiano na lida da
vinha/campo/terra, se recriou uma dança na paisagem. Esta dança engloba várias
passagens na vida da vinha, desde o nascimento até à sua morte, passando por
todos os processos de crescimento e tratamento da mesma.
Mas começando do princípio…
Durante o primeiro trimestre deste
ano, de todo o lado chegavam notícias de que a companhia das Comédias do Minho
procurava gente destemida e bem- disposta para realizar este projeto. A notícia
chegou inclusive aos ouvidos do grupo de dança All Styles, da AJUM (Associação
de Jovens Unidos de Mazedo), do grupo Filarmónica Milagrense e da Universidade
Sénior. Estavam então encontradas as personagens necessárias para realizar este
projeto.
A primeira experiência com esta
causa nasceu de uma simbiose perfeita entre as Comédias do Minho e a
associação cultural Radar 360º, da qual
resultou um pequeno workshop intensivo que decorreu no mês de abril, nas mãos
de António Oliveira e Julieta Rodrigues. Este curto espaço de tempo em que
tanto se passou, podemos dizer que foi uma espécie de trabalho de
campo/pesquisa com o intuito de nos preparar para o que aí viria… Retratámos
vários aspetos relacionados com a vinha que nos viriam a ser úteis para o Solar.
Daí passámos então aos ensaios com o
criador/realizador do projeto, Gonçalo Fonseca. Estes ensaios decorreram
durante maio, junho e julho e podemos dizer que foi assim que o espetáculo foi
montado nas mãos de cada um de nós, em que no fundo todos introduziram um
pedaço de si naquele a que viria a ser o resultado final.
A passos largos chegava então a data
de apresentação nos dias 25, 26 e 27 de julho tendo como palco o emblemático
Palácio da Brejoeira que com a sua beleza natural contribuiu em muito para
enriquecer o espetáculo.
Esta experiência que a todos
agradou, ajudou-nos a crescer enquanto potenciais atores e conhecedores do meio
envolvente visto que foi-nos dado a tarefa de recriar uma tradição muito
importante na nossa história pois se pensarmos bem Monção é a sua vinha. Aquilo
que melhor nos retrata a nível nacional e internacional é o nosso vinho sendo
por isso uma experiencia enriquecedora em relação à nossa cultura.
Outro aspeto que adoramos na
experiência foi o grupo e o ambiente criado entre todos. Desde os atores
profissionais, os músicos e até à nossa querida estagiária todos nos
relacionámos com relativa facilidade e boa disposição, criando um grupo
fantástico com vontade de trabalhar e fazer este projeto crescer.
Só nos resta então agradecer a todos
os participantes e pedir uma salva de palmas ao nosso querido encenador Gonçalo
Fonseca, ao grupo de atores profissionais da companhia das Comédias (Luís
Filipe Silva, Mónica Tavares e Tânia Almeida), às Comédias do Minho em si por
terem apostado em nós, à Radar 360º pela experiência positiva que nos
proporcionaram, ao Palácio da Brejoeira e à Câmara Municipal de Monção pelo
apoio manifestado. E, não nos podemos esquecer, uma salva de palmas a nós.
Sandra Santos | P COURA
Existem
acontecimentos que ocupam a nossa vida sem pedir licença. Que chegam
devagarinho e vão ocupando terreno, desbravando sentimentos, galgando
resistências, abrindo novos cenários… O Solar foi assim!
Dançar
na paisagem? Contar uma história, um ciclo da terra, da vinha e do vinho? (Não
é coisa para meninos).
Perceber
que se pode criar a partir de coisas tão simples como gestos repetidos, gestos
que transmitem a força que vem da terra, do suor e do cansaço…
Foi
bom compartilhar dessa criação, perceber como o meu “eu” se transforma em “nós”
trazendo “todos” para dentro de um sonho que é posto em cena.
Ocupar
um “palco” diferente obrigou-nos a explorar as potencialidades do movimento do
corpo interagindo com a natureza e o cenário natural da praia do Tabuão trouxe
uma magia que foi muito além do próprio espetáculo.
Falar
do Solar em Coura, para mim, é falar dos últimos raios de sol a atravessar as
folhas das árvores, de reflexos suaves na superfície do rio, da humidade da
terra misturada com o suor do corpo, do calor de um ombro amigo, da música em
sintonia com a cascata, de braços a dançar como videiras contra um céu de
estrelas…
Ana Filipa Domingues, Gabriel Cristiano e Juliana Pires e grupo | MELGAÇO
Após um longo e intenso período de
trabalho com vista à criação do projeto “ Solar”, encenado por Gonçalo Fonseca,
podemos afirmar que foi uma experiência enriquecedora em todos os sentidos.
Para termos o primeiro contacto com
o teatro físico adaptado a situações de rua, tivemos uma pequena formação de
três dias com a participação da Associação Cultural Radar 360º que nos
sugeriram alguns momentos, emoções e imagens impulsionando-nos para um olhar
diferente sobre o trabalho da vinha.
Depois da formação, tivemos contacto
com os atores profissionais das Comédias do Minho e com o encenador Gonçalo
Fonseca, que trabalhou connosco movimentos coreográficos destinados à
apresentação final. Fez parte do processo de trabalho um desempenho tanto
pessoal como de grupo: aprendemos a moldar o nosso corpo em diferentes
situações e a trabalhar como um só. Podemos verificar que cada um possui uma
visão distinta de todo o processo que vai da vinha à prateleira surgindo assim
várias interpretações que enriqueceram o espetáculo e a nós mesmos.
O nosso objetivo com este espetáculo
é relembrar ao espectador as memórias do passado que ainda possui, tal como num
álbum de fotografias.
O contacto com os profissionais da
representação funcionou como um alicerce, ou seja, proporcionaram-nos segurança
para que tijolo a tijolo fosse possível construir esta grande e bela “casa”.
Os dois últimos ensaios
realizaram-se na Quinta do Reguengo, local destinado à apresentação final.
Entusiasmo e agitação foram dois dos sentimentos que passaram por nós no
processo de adaptação ao espaço pois várias coisas foram alteradas e
significava que estávamos cada vez mais próximos do momento da apresentação
final.
Em conclusão, percorrer esta estrada
com os profissionais e com todos aqueles que nos apoiaram, Comédias do Minho,
foi muito enriquecedor e gratificante. Podemos dizer que conseguimos atingir a
meta de mais uma corrida e esperamos ansiosamente por uma próxima. Um grande
obrigado e não um adeus, mas sim um até já.
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